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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Preciso reconstruir o meu “alô”

Uma leitura puxa outra leitura e puxa até outra escritura. Como é o caso agora.
Lia a espirituosa crônica do Marcos Kirst, em que ele entrega a pérola do título acima e fiquei pensando em quantas coisas que teríamos que “reconstruir”, se nos dêssemos ao trabalho para tal.
Poderíamos pensar em reconstruir, por exemplo, os olhares faltantes. Você olha para quem está do seu lado? Sempre do mesmo jeito? Como é esse olhar? Olha para o seu filho? Olha mesmo? Como é o seu olhar para o porteiro do prédio? Para o caixa do supermercado? 
Ok, chega dessa prolixidade  de interrogações, sabemos que existem tipos de olhares. Por isso, voltando ao olhar que precisa de reconstrução. É esse olhar faltante, de quem olha e não vê, só repara, cuida, espreita. Quem tem olhar faltante deveria pensar em reconstruí-lo já. Fazer exercícios, sei lá, qualquer coisa, porque é pior do que o alô sonolento do Marcos, pior do que o meu sorriso em reconstrução, e do meu inferno que é falar ao telefone, pois as sibilantes sibilam demais.
E digo mais, as pessoas que reconstruíram esse seu olhar sempre nos “pegam”. Ninguém sai ileso diante de um olhar assim, reconstruído.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Escola e Formigas

Nesse mês, estive na Escola Municipal José Bonifácio, aqui de Caxias do Sul. 
Não pela primeira vez. O meu contato com essa escola foi como professora, há muito tempo atrás. Por isso foi com grande alegria que recebi o convite para bater um papo com os alunos e professores, lá retornando agora como autora. A sensação é a mesma de rever um amigo querido. Entrar na casa dele, olhar as cortinas nas janelas e lembrar de como a luz colore as paisagens de forma semelhante à memória. 
As professoras e bibliotecária fizeram um lindo trabalho de mediação com o Formigas. Um pouco, muito pouco disso tudo, acho que consegui captar nas fotos. A maior parte volta a ficar naquela parte da memória em que guardamos as coisas aquecidas e doces, como o bolo formigueiro que provei lá. Lanche especial do dia. Uma delícia.


domingo, 19 de junho de 2011

O Jardim Secreto


Adormecer, acordar. Inverno, verão. Chuva, sol. Transformações, metamorfoses, metáforas. "É claro que deve haver muita mágica no mundo, só que as pessoas não sabem". Ou  não percebem, ou não enxergam, ou não querem ver. Penso que todo mundo deveria ter um jardim secreto, com a porta escondida debaixo de uma cortina de heras. Um lugar para buscar quando o mundo se torna denso demais, um lugar de belezas nem sempre tão evidentes, onde bulbos podem estar trabalhando debaixo da terra no inverno para exibirem-se somente na primavera.
Vamos falar de flores? O livro da 24ª Confraria Reinações é O Jardim Secreto de Frances Hodgson Burnett. Sob minha coordenação.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fogueiras

Sempre acompanho as polêmicas que surgem em relação aos livros e à literatura e não seria diferente com o episódio da retirada dos livros de Paula Mastroberti das Escolas Municipais do Rio de Janeiro.
Acompanho e admiro o trabalho de Paula Mastroberti há muito tempo. Como mediadora, indicava a leitura de seus livros na época em que trabalhava numa Escola Municipal daqui. Posteriormente, trabalhando em vários projetos de leitura, nunca deixei de indicar suas obras, incluso o Heroísmo de Quixote. Sempre me surpreendeu a literatura de Paula, pelos diálogos interpostos entre a linguagem artística, textual e obras de arte e literárias.  São redes  que a leitura propõem enquanto o leitor transita pelo(s) texto(s). Ok, falando assim parece que é uma obra para eruditos, nada disso. É um texto dinâmico e provocativo, que por transitar entre linguagens transita também pelas linguagens que compõem o humano, que não pode ser “enquadrado”, classificado , rotulado de bom ou ruim, como se somente fôssemos dois lados de uma moeda. Então, de onde vem a ideia de que uma obra literária deve ser assim? 
Atenção pais e professores, Obra literária não é livro didático. Professores, leiam, leiam mais do que a literatura, nesse mundo hipermidiático, leiam outras linguagens artísticas, porque elas tem permeado a literatura e, tenham argumentos que sustentem as leituras propostas. Pais, sigam o mesmo caminho, leiam mais e não deleguem apenas aos professores a tarefa de mediação. Leitura  começa em casa. E para os pais que acham que os livros devem trazer uma auréola na capa: fica a frase bem colocada de Ana Cláudia Munari (Doutora em Letras/PUCRS), falando sobre a polêmica em questão no Caderno de Cultura de ZH do dia 21/05. “Preocupados com a leitura desses jovens aprendizes? Observem mais do que as histórias dos livros. O ciberespaço não arde em fogueiras nem pode ser banido das prateleiras”.